Norte da África / Imagem da Internet

Antes de mais nada, cabe uma breve apresentação, sou um homem negro, suburbano, casado e pai de duas meninas. Profissionalmente e academicamente multiplico saberes nas áreas de Produção Cultural e Informática por praticamente toda a vida de pouco mais de três décadas. Informática desde a infância, produção cultural desde o final da adolescência e as intercessões das duas há menos de uma década, mas certamente uma das coisas que vou fazer por muito tempo nessa vida. O motivo do meu texto é que também sou um cozinheiro amador, responsável pela maioria das refeições de 4 pessoas nesse mundo, as que moram na minha casa, rs. Além de cozinhar, me interesso por culinária, nutrição e gastronomia de maneira geral. Como toda pessoa curiosa, com o mínimo de prática e treinamento acadêmico, transformo hobbies em pesquisas informais.

A convite do meu amigo de antigas aventuras e conversas, Sidnei Gama, venho aqui para falar um pouco sobre a culinária mediterrânea no norte do continente africano. Lendo o resumo da ideia do blog, fiquei provocado a fazer uma contribuição em 3 partes: 1. A revelação da culinária mediterrânea no norte de África; 2. A sugestão de receitas para um cardápio completo inspirado nas refeições dessa região; 3. Um pouco mais de informação e curiosidades sobre um ingrediente comum na culinária brasileira que também tem origem nessa região. Venham comigo!

 

Culinária mediterrânea norte-africana

 

A culinária mediterrânea é basicamente a reunião de hábitos de alimentação e modos de preparo dos povos que vivem próximo das margens do Mar Mediterrâneo. A região é unida não apenas pelo mar e clima ameno, mas também historicamente por longas e tumultuosas disputas conquistas e ocupações de grandes civilizações da humanidade, tais como Fenícios, Egípcios, Cartagineses, Persas, Gregos, Romanos, Otomanos etc. A região mediterrânea foi uma das mais importantes rotas comerciais durante muitos séculos, viabilizando a difusão de ingredientes mediterrâneos para diferentes locais, tornando-os presentes em praticamente todo o mundo. A intensa dinâmica local proporcionou uma quantidade grande de intercâmbios culturais que incluem agricultura, pecuária, manufatura, culinária e gastronomia, dessa forma existe uma similaridade entre os ingredientes, variando as combinações, modos de preparo, formas de servir e de comer.

O motivo da escolha desse tema foi a falta de conhecimento sobre a extensão da culinária mediterrânea. Como toda a história do dito mundo civilizado, a ocorrência de uma dieta mediterrânea é creditada a Grécia e suas ilhas, incluindo ingredientes como peixes frescos, azeite de oliva e iogurtes. Não tenho nada contra a popularização dos hábitos alimentares da região, contudo caímos mais uma vez em um discurso marquetável da supremacia europeia como berço da humanidade e o ideal a ser seguido. Falar em Mar Mediterrâneo é falar de diversidade, Europa, Ásia, Oriente Médio, África e principalmente das fronteiras entre esses lugares. Em África destacamos Marrocos, Argélia, Tunísia, Líbia e Egito.

Muito acima da propaganda, a culinária mediterrânea apresenta uma exuberância de cores, sabores e texturas. Um traço marcante é justamente o paladar forte, pois não é comum a utilização de molhos cremosos e ingredientes que suavizam e uniformizam o paladar. Apesar da região ser banhada pelo mar, além de peixes e frutos do mar, os povos que por lá passaram foram exímios em domesticar gado de pequeno e médio porte, tais como ovinos, caprinos e suínos. Não faltam, vegetais e ervas frescas, ervas e sementes secas, grãos, castanhas e nozes. Alheio a algumas bobagens que já ouvi como: “a dieta mais antiga do mundo” ou “a dieta mais saudável do mundo”, os produtos do belo mar azul-cintilante são em geral muito saborosos e a cada dia descubro novidades vindas das proximidades dessas águas.

Esse texto não é um tutorial sobre as características da culinária norte-africana, mas uma pitada de saber para o que chamo de expansão do desconhecimento, quando nos damos conta do que não conhecemos, por isso convido você a mergulhar nesse mar também. Olha a onda!

Quer saber mais?
O livro essencial da cozinha mediterrânea. Tradução de Frederico Pedreira. Ed H.F. Ullmann, 2008.